sexta-feira, dezembro 7

Autonomia na escola?!

Anteontem pela manhã, enquanto acompanhava os meninos e meninas se entreterem no poliesportivo do colégio com brincadeiras, jogos e até mesmo danças, um fato me chamou a atenção: numa das quadras não cobertas, um garoto havia chutado a bola para o alto, fazendo com que a esfera envolta em couro se encontrasse com a tela de proteção acima. Antes mesmo de ser emitido o som da queda da bola, um outro garoto disse: "Saiu!" e bateram o lateral, como se fosse ali a saída destinada à bola, provocada pelo chute enérgico. 

E aí este simples e corriqueiro momento me fez refletir: a tentativa de liberdade na escola é tida como "saída de jogo". A escola (falo aqui da tradicional, dominante em nosso território e, talvez, até mesmo no mundial) não sabe - ou não quer aprender - a lidar com a liberdade. Fala-se que a escola está aí para preparar para a vida, dando ao sujeito autonomia e capacidade de reflexão. Mas será que é isso mesmo? O que acontece se um menino resolve usar boné, ou falar gírias em sala de aula? Aliás, o que o boné ou a gíria atrapalhariam na construção da autonomia e capacidade de reflexão do indivíduo? 

O uso do boné é uma preferência; a gíria, um meio não só de se expressar, mas uma das cargas socioculturais do sujeito. Então por que opor-se a isso? O discurso é sempre o mesmo: "Não faz parte do uniforme", ou "Esse uso de linguagem não é apropriado na escola". Ou seja, a escola na verdade cria o seu modelo de autonomia e pretende que todos o sigam.

sexta-feira, outubro 26

Quando escola e empresa são sinônimos

Atualmente, trabalho numa escola particular que adota, como base, o modelo tradicional. Alunos e pais são clientes e a comunidade é uma vitrine, ao invés de serem seres sociais e históricos ativos, imersos no processo de ensino e aprendizagem. Para muitos profissionais, esse tipo de escola é um Paraíso. Para mim, nem tanto...

Há poucas escolas na cidade de BH que ousam seguir pedagogias alternativas, como a Pedagogia Freinet, Pedagogia Waldorf, a linha escolanovista, etc. E as que tem, como pude perceber, não possuem vaga pois trata-se de escolas que criam mecanismos internos com a finalidade de aperfeiçoar a prática e estimular a reflexão docentes. Estas são o meu Paraíso, mas muito distantes de mim. Também ficariam satisfeito numa escola pública, pois teria pelo menos a certeza de que eu teria mais liberdade em adotar a prática a qual considero mais adequada para estimular, no aluno, sua autonomia, criatividade, responsabilidade, sensibilidade e liberdade. 

Mas em escolas particulares modelo tradicional, além de não ser possível, impera a imagem de empresa. Digo empresa no sentido da lógica capitalista e não como entidade formal. Isto gera em mim um grande choque, já que sou adepto de uma miscelânia de pedagogias, dentre elas a pedagogia da autonomia (se me permitem a nomenclatura), desenvolvida por Paulo Freire. Freire faz críticas contundentes à educação bancária, de lógica mercadológica, em que o conhecimento seria não somente unívoco, mas também um elemento de discriminação social e cultural. 

Nessas instituições, professores e alunos não são estimulados, senão cobrados por apresentarem resultados considerados "de sucesso" pela elite. Tudo em nome da manutenção da ordem do sistema vigente. 

sexta-feira, setembro 7

O início da jornada

Não estou certo de que todos os recém formados passam pelas mesmas dificuldades pelas quais eu passei, mas tenho certeza que se não todos, uma grande parcela vive a agonia de não conseguir emprego na área e ter de se submeter a empregos que nada tem a ver com nosso perfil e nossa personalidade.


Felizmente este drama foi superado depois de ter conseguido um emprego numa escola como assistente pedagógico. A escola segue a linha tradicional mas não é linha dura. Mesmo assim está totalmente fora de cogitação botar todas várias ideias em prática. Porém já significa muito! Como me disse uma vez meu querido tio, "Toda longa jornada começa com o primeiro passo". E é bem isso mesmo: difícil no começo, mas depois que começa a gente não se cansa facilmente. 

segunda-feira, agosto 20

A utopia é um horizonte - devemos caminhar sempre


Algo que considero fundamental na educação, além da aproximação entre teoria e prática e da autorreflexão, é a utopia. Talvez muitos veem a utopia apenas como um atributo peculiar à juventude e que, aos trinta e poucos anos, é ridículo alguém sustentar utopia(s). Infelizmente este tipo de pensamento é frequente também na área da educação - uma área que, devido o seu caráter político e de impacto social, deve ser movida pela capacidade de sonhar em viver numa sociedade mais justa. O sonho não deve ser desprezado, pelo contrário, deve ser cultivado por cada cidadão e não só por educadores. A melhor definição que ouvi foi de Eduardo Galeano, escritor uruguaio: "A utopia é a linha do horizonte: se me aproximo 10 metros dela, ela se afasta a 10 metros de mim. Mas é para isso que serve a utopia, para caminhar". Complementando, nas palavras de Raul Seixas, "sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto é realidade".  

sexta-feira, julho 13

Muitos de nós são como formigas infectadas

Todos já devem ter visto uma formiga subindo numa lâmina de capim. A formiga sobe até o topo e cai. Ao cair, sobe novamente e cai outra vez e assim vai procedendo. Acontece que a formiga foi infectada por um parasita, o Dicrocoelium dentriticum. De fato, a formiga não ganha absolutamente nada com isso. E quantos de nós, humanos, somos parecidos com uma formiga infectada por este parasita? Quantos de nós, em pelo menos algum momento de nossas vidas, não passamos por situações similares? 

Um exemplo muito parecido com o subir-cair-subir-cair das formigas infectadas é a barra de rolamento de redes sociais, mas principalmente o facebook. Não, eu não tenho nada contra o facebook e nem nada contra quem tem ou que fica online na rede todos os dias por semana. Só quero constatar que ninguém ganha nada ao passar horas do dia desperdiçando tempo compartilhando posts repetidos ou curtindo posts de rostinhos de animais ou bebês exaltando a chegada da sexta-feira. Bem, e o que isso poderia ter a ver com a educação, um dos temas centrais propostos por este blog? O fato de que uma educação voltada para a autonomia reveste o sujeito de senso crítico e autocrítico. O que quero dizer com isso é que todo mundo é livre de escolher como gastar seu tempo livre da maneira que quiser; mas aí que está a palavra-chave da questão: escolha e não indução. Posso passar por papel de conspirador diante do olhar de muitos, mas acredito firmemente que o facebook se utiliza de artimanhas capazes de atingir o subconsciente dos usuários, uns mais, outros menos, mas todos são - de uma maneira ou de outra - "infectados" por estes recursos. 

Seja a utilização da cor azul ou qualquer outra coisa, acho realmente que há alguma coisa além dos impulsos elétricos da tela dos computadores em que o facebook é acessado. Mas estando eu errado ou não, o fato é que a rede social causa dependência, assim como os modernos aparelhos como iphone, ipad, etc. Porém estes aparelhos não são mais utilizados para ler e-books do que para acessar as redes sociais. E por falar em leitura, poucos são os jovens hoje que dedicam seu tempo livre, ou pelo menos parte dele, a um bom livro. Sinceramente eu acho muito preocupante que seja mais relevado atividades de pouco teor intelectual. O problema ainda se agrava, a meu ver, quando a escola (geralmente de caráter tradicional) incorpora a leitura como meio de barganha de pontuação, explicitando ainda mais o caráter bancário que a educação vem assumindo nestes últimos séculos, ao invés de trabalhar a leitura como prática saudável de prazer e entretenimento. O simples ato de folhear um bom livro é, em si, superior ao acionar para cima e para baixo a barra de rolamento de redes sociais.

quarta-feira, julho 11

A crise da educação é a crise da sociedade

Uma das associações interessantes que percebi no período da faculdade de pedagogia com o auxílio de autores, professores e colegas é que não há distinção ou deligamento da crise da sociedade com a crise da educação. E por que não? 

Bem, primeiramente penso que é pela educação que perpassa o cerne da organização social. E consequentemente, é na sociedade que se pode ver o reflexo da educação. Hoje, no Brasil, assim como em todas as partes do Globo, predomina a educação que estimula a competição doentia e que cultua o descartável, o momentâneo e o virtual. Coloca-se em pauta maior o ter ao invés do ser, o "ficar" ao invés de um relacionamento comprometido. 

No âmbito da educação, podemos traduzir isto como a existência dos vestibulares: os planos educacionais das instituições são planejados de acordo com o que é cobrado no vestibular, e não com base no que é essencial para o desenvolvimento da autonomia do sujeito no seu convívio harmonioso com a natureza. 

Os assédios publicitários carregados de machismo e discriminação racial e social (talvez até religiosa) são levados com muita seriedade por boa parte da sociedade, de tal modo que os anúncios de uma propaganda podem ser impregnados na linguagem coloquial do cotidiano. Programas de tv travestidos de humor, mas que, na verdade utilizam o espaço midiático para impor valores não essenciais à felicidade humana, são aclamados por uma imensa plateia que cada vez mais está massificada. Não é raro que haja pessoas que, em contrapartida, sintam-se descaracterizadas pela tendência "igualicionista" imposta pela grande mídia. 

Na escola é muito comum que os alunos sejam tratados como sendo um únicos nas questões mais pluralmente peculiares ao ser humano, como a questão cultural, por exemplo. Os professores também são vistos destas maneiras pelos próprios alunos, pelos pais dos mesmos e, em muitos casos, até mesmo pela direção e coordenação. Espera-se sempre a mesma reação, as mesmas conversas e os mesmos métodos. A sociedade atual em que vivemos é tida como plural, mas contraditoriamente, a pluralidade das pessoas encontra barreiras para se manifestar.