Anteontem pela manhã, enquanto acompanhava os meninos e meninas se entreterem no poliesportivo do colégio com brincadeiras, jogos e até mesmo danças, um fato me chamou a atenção: numa das quadras não cobertas, um garoto havia chutado a bola para o alto, fazendo com que a esfera envolta em couro se encontrasse com a tela de proteção acima. Antes mesmo de ser emitido o som da queda da bola, um outro garoto disse: "Saiu!" e bateram o lateral, como se fosse ali a saída destinada à bola, provocada pelo chute enérgico.
E aí este simples e corriqueiro momento me fez refletir: a tentativa de liberdade na escola é tida como "saída de jogo". A escola (falo aqui da tradicional, dominante em nosso território e, talvez, até mesmo no mundial) não sabe - ou não quer aprender - a lidar com a liberdade. Fala-se que a escola está aí para preparar para a vida, dando ao sujeito autonomia e capacidade de reflexão. Mas será que é isso mesmo? O que acontece se um menino resolve usar boné, ou falar gírias em sala de aula? Aliás, o que o boné ou a gíria atrapalhariam na construção da autonomia e capacidade de reflexão do indivíduo?
O uso do boné é uma preferência; a gíria, um meio não só de se expressar, mas uma das cargas socioculturais do sujeito. Então por que opor-se a isso? O discurso é sempre o mesmo: "Não faz parte do uniforme", ou "Esse uso de linguagem não é apropriado na escola". Ou seja, a escola na verdade cria o seu modelo de autonomia e pretende que todos o sigam.